Planejamento Familiar é Qualidade de Vida
Direito garantido pela Constituição brasileira, o planejamento familiar confere ao cidadão a opção de escolher se quer ou não ter filhos e quando tê-los, além de informar sobre o acesso a métodos anticoncepcionais. Por isso, o processo contribui decisivamente para a construção de uma sociedade mais saudável e com qualidade de vida, diminuindo também o risco de mortalidade materno-infantil.
As considerações são de Susana Denicol, coordenadora de treinamento de planejamento familiar da Bayer. Em entrevista, a especialista reforça que filhos planejados serão bem-vindos dentro de uma estrutura que garanta a eles as necessidades básicas para seu bem-estar, criando seres humanos mais educados, responsáveis e, consequentemente, uma sociedade menos desigual.
Qual a importância do planejamento familiar no desenvolvimento humano de uma sociedade? De que forma contribui para melhorias em saúde, educação, qualidade de vida, condição social e no atendimento a necessidades básicas por parte da população?
Uma sociedade que assegura à população o direito ao planejamento familiar certamente também proporciona melhor qualidade de vida a todos em inúmeros aspectos: físico, psíquico e social. Pensar o planejamento familiar como o direito de todo cidadão decidir se quer ou não ter filhos, quando tê-los e saber o que fazer caso pretenda prevenir uma gravidez, pode contribuir para uma sociedade mais saudável, já que filhos planejados nascem de mães que tiveram um acompanhamento médico, o que diminui, em primeiro lugar, o risco de mortalidade materno-infantil. Por sua vez, essas crianças serão bem-vindas dentro de uma estrutura que lhes garanta as necessidades básicas para seu bem-estar, o aconchego de um lar, o acesso à educação, criando seres humanos mais equilibrados, educados, responsáveis e, consequentemente, uma sociedade menos desigual.
No Brasil, a ajuda do governo no planejamento familiar está prevista na Constituição. De que forma é realizada essa assistência no sistema de saúde? Poderia ser melhorada?
A Constituição brasileira garante que todo o cidadão terá direito ao planejamento familiar. A saúde no Brasil é descentralizada, e cada município recebe subsídios do Ministério da Saúde para desenvolver ações de planejamento familiar, as quais dependerão das prioridades do governo local. No Brasil, existem muitos municípios que possuem programas bem estruturados para essa finalidade, mas essa não é a realidade do país como um todo. Muitas vezes, além da falta do acesso aos métodos contraceptivos, faltam trabalhos voltados para orientação dessa população, para que ela possa fazer escolhas livres, bem informadas e, dessa forma, esteja mais motivada, satisfeita e comprometida com o método escolhido, garantindo, assim, a continuidade de utilização do método, bem como o planejamento de uma gravidez dentro do projeto de vida de cada casal.
As campanhas em defesa do planejamento familiar existentes são bem-sucedidas ou ajudam a esclarecer questões pertinentes sobre o tema? A distribuição gratuita de camisinhas e de folhetos explicativos é útil? Traz resultados práticos, atinge o público-alvo? De que forma a medicina e os profissionais da área ajudam a reforçar essas iniciativas?
O Brasil é um país continental, com uma diversidade de culturas, uma carência de educação, que deixa boa parte da população limitada para entender e valorizar adequadamente tudo o que implica planejar uma gravidez, fazer a escolha de um método contraceptivo e se comprometer com suas decisões. No entanto, os programas de planejamento familiar precisam melhorar a qualidade das informações prestadas à população, o que começa pelos próprios profissionais de saúde, os quais possuem conhecimento limitado sobre contracepção, pouca disponibilidade para desenvolver atividades educativas, muitas vezes pela sobrecarga de trabalho existente, pouco preparo para manejo de grupos, além da dificuldade para lidar com questões relacionadas à sexualidade, o que compromete a qualidade das orientações oferecidas à população. É claro que existem trabalhos muito bem estruturados em alguns municípios, inclusive citados como referência fora do país, mas ainda não podemos dizer que essa é uma realidade para todo o Brasil.
O atendimento de saúde pública tem sido suficiente no combate à gravidez não planejada? A senhora acha que a oferta de cirurgias de laqueadura e vasectomia em hospitais públicos, assim como de anticoncepcionais em “farmácias populares”, ajuda a prevenir o problema?
No Brasil, os índices de natalidade já são semelhantes aos de países desenvolvidos, mas se olhar mais atentamente para cada região brasileira, observa-se que esses índices caem principalmente nos estados do Sul e Sudeste, enquanto no Norte e no Nordeste ainda encontramos famílias com cinco, seis ou mais filhos. Outro ponto importante a ser levado em consideração é o fato de que, enquanto o índice de natalidade cai nas mulheres com 20 anos ou mais, na população adolescente (10-14 anos e 15-19 anos) esse índice aumenta, visto que uma parte dessas meninas já possui mais de um filho. A oferta de todos os métodos de contracepção é de fundamental importância; porém, ela deve vir acompanhada de informação e educação, o que garantirá que as escolhas possam ser feitas com mais consciência e responsabilidade do usuário, que, dessa forma, se compromete mais com o método escolhido. Nos casos de laqueadura e de vasectomia, é claro que a disponibilidade desses métodos é fundamental. No entanto, quando se trata da escolha por um método cirúrgico, é sempre importante levar em consideração a possibilidade de que, com o tempo, a pessoa se arrependa e volte a planejar ter filhos, e, nesse caso, as dificuldades para uma nova gestação serão maiores; portanto, mais uma vez, ressalte-se a importância de que a escolha do método seja consciente e bem orientada.
Uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas indica que a gravidez precoce é cinco vezes maior nas favelas cariocas do que em outros bairros da cidade. Por que isso acontece? O grau de instrução ou a camada social interferem na incidência?
Pesquisas demonstram que, quanto maior o nível socioeconômico e cultural de uma sociedade, mais adequadas serão as decisões tomadas por sua população, que, dessa forma, possui conhecimento para valorizar e entender que os cuidados com a atividade sexual impactam a qualidade de vida e os projetos futuros.
Quando se vê um dado como esse, vale pensar qual o nível de educação dessas meninas e quais as suas perspectivas para o futuro, pois, para muitas delas, a gravidez pode ser o único projeto de vida, no qual elas veem a possibilidade de mudar o seu status de filha para mãe, a possibilidade de casar e, assim, conseguir uma mudança de vida.
Qual a importância do diálogo entre casais ou pais e familiares na elaboração do planejamento familiar? Quais pontos devem ser analisados antes de se ter um filho?
A importância do diálogo é fundamental, pois, por meio dele, é possível se dizer o que esperamos um do outro, negociamos o que queremos e como queremos, e isso não é diferente quando se pensa em um relacionamento sexual. Afinal, se dentro da vida de um casal a gravidez não faz parte dos planos, é prioritário que medidas sejam tomadas para que ela não aconteça, e vale ressaltar que esse diálogo precisa acontecer antes de a relação rolar, pois, no momento em que ela está prestes a acontecer, fica difícil adiar o prazer para se pensar em prevenção. Com os filhos não é diferente, e os pais devem lembrar que a educação começa muito cedo, não apenas com muito diálogo, franco e aberto, mas também atentando para o fato de que educamos por nossas atitudes e exemplos. Quando um casal pensa em ter filhos, vários pontos devem ser analisados: quantos filhos queremos ter; quando queremos ter nossos filhos; que condições de vida gostaríamos de dar aos nossos filhos; quais as nossas condições econômicas para criar os filhos pensando em saúde, educação, moradia, alimentação, lazer etc.; qual o significado de ter filhos para cada um; o projeto de vida de cada um; e quem se responsabilizará pela educação das crianças.
Fonte: Bayer
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