Abbott cria nova técnica para desobstruir artérias
Veículo: Brasil Econômico
Jornalista: Martha San Juan França
Nas últimas décadas, as doenças coronarianas resultantes da deposição de placas de ateroma (geralmente formadas por tecidos gordurosos ou fibrosos) no interior de uma dessas artérias foram tratadas com a técnica da angioplastia com colocação de stents, pequenas próteses de metal introduzidas por meio de um balão no local da obstrução. Após a colocação, o stent fica fixo, não se descola e não se retira mais, passando a fazer parte da parede da artéria, liberando o fluxo de sangue e salvando a vida do paciente.
Centenas de milhares de vida foram salvas por esse procedimento. Atualmente, a técnica foi melhorada com a introdução do stent farmacológico, que aumenta a eficácia da angioplastia ao evitar que os pacientes tratados com o método sofram com novos eventos cardíacos, como o enfarte. Com a chegada dos stents farmacológicos os pacientes ganharam uma opção de tratamento menos agressiva e até mesmo pessoas com problemas crônicos passaram a ter uma qualidade de vida melhor.
Agora, foi dado um passo adiante para melhorar a eficácia do tratamento. A Abbott desenvolveu o primeiro dispositivo cardiovascular farmacológico bioabsorvível aprovado do mundo, indicado para tratar doença arterial coronariana obstrutiva.
O dispositivo pode desobstruir uma artéria cardíaca e dissolver-se em dois anos, restaurando a função natural do vaso, de uma forma que não é possível com implantes permanentes.
O laboratório farmacêutico já conseguiu a sua aprovação nos países da Comunidade Europeia, mas em outros países, como nos Estados Unidos e no Brasil ainda está em fase final de estudos. No Brasil, três centros fazem parte do estudo: Dante Pazzanese, Instituto de Cardiologia de Uberlândia e o Hospital Albert Einstein, de um total de mais de 40 centros, de mais de 25 países.
Revolução
“O dispositivo pode representar uma nova revolução no tratamento de obstrução arterial, já que permite resultados que não são possíveis com os stents metálicos tradicionais”, diz o cardiologista Marco Antônio Perin, chefe da Divisão de Hemodinânica e pesquisador principal pelo Albert Einstein. Desde que foi iniciado o estudo clínico no país, cerca de dez pacientes receberam o stent biodegradável, o último dos quais ontem no Hospital Albert Einstein. Todos passam bem, mas é necessário esperar alguns anos para verificar a eficácia do tratamento.
O desenvolvimento do Biosorb, como foi chamado, representou dez anos de pesquisas da Abbott e um passo importante em uma área promissora para a companhia. Apenas nos Estados Unidos, o mercado de cardiologia intervencionista deve alcançar algo como US$ 570 milhões com a introdução do stent biodegradável e chegar a um total de US$ 5 bilhões em 2017.
Várias companhias buscam um polímero em substituição aos stents metálicos, que, apesar de inovadores, em alguns casos impedem a função natural da artéria pela inibição de sua capacidade em se dilatar e contrair-se em resposta às alterações normais de pressão sanguínea. O organismo também reage ao metal com inflamação e, em alguns casos, ocasionando coágulos que devem ser tratados com medicamentos por um longo prazo.
A Abbott chegou mais longe nessa busca, com um polímero feito de ácido polilático, um material biocompatível geralmente usado em implantes médicos, como suturas. O Absorb libera gradativamente, depois de implantado, o medicamento Everolimus (anti-proliferativo) desenvolvido pela Novartis e licenciado para a Abbott para uso em dispositivos vasculares farmacológicos. O Everol imus tem demonstrado inibir o crescimento celular (reestenoses) em artérias coronarianas, verificado após implantes de dispositivos cardiovasculares.
Prevendo o impacto que o Absorb terá no tratamento das doenças coronarianas, recentemente o Wall Street Journal outorgou o seu prêmio do Inovação Tecnológica à Abbott, na categoria dispositivos médicos.
Estudo clínico é feito em centros de 25 países
O Absorb da Abbott é um estudo clínico global, de larga escala, do qual fazem parte cerca de mil pacientes com doença arterial complexa, de cem centros da Europa, Ásia, Canadá e América Latina.
Os dados deste estudo poderão fundamentar os pedidos de aprovação do dispositivo em vários países ao redor do mundo. Nessa fase, os pacientes estão sendo avaliados quanto à segurança do stent e efeitos adversos após alguns meses e até três anos.
A expectativa é que com a demonstração de segurança e eficácia do Absorb, com restauração da função vascular e redução da placa de aterosclerose, em lesões simples, seja possível passar para uma fase posterior com a aplicação do dispositivo bioabsorvível em pacientes com problemas mais graves. Os principais critérios de inclusão no estudo são a colocação do stent em pacientes com doença obstrutiva em até dois vasos de até 3 milímetros. O dispositivo é introduzido de forma minimamente invasiva, num procedimento semelhante ao implante de um cateter, o que evita uma cirurgia de peito aberto, que requer a abertura das costelas e do esterno do paciente para acessar a artéria obstruída.
Outras pesquisas
A Abbott desenvolve outras pesquisas na área cardiovascular e pretende lançar cerca de vinte novos produtos nos próximos cinco anos, além de mais dez tecnologias coronarianas. Outras áreas promissoras da companhia são a oncologia, neurociência e dor, hepatite C, doenças renais crônicas, imunologia, nutrição, oftalmologia e saúde da mulher. A divisão farmacêutica da Abbott tem 35 moléculas em estudo de fase final, além de quinze medicamentos biológicos em desenvolvimento e outros vinte novos compostos em fase inicial de estudos.
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