Farmácias vitaminadas

O BRASIL cresce, mal ou bem, desde 2005, como não crescia fazia 30 anos. O tamanho das empresas cresce ainda mais rápido. É o que ocorre também com as farmácias, negócio ainda pulverizado em termos nacionais, mas nem tanto nos Estados.

As farmácias passaram a atrair empresas financeiras do porte de BTG e Gávea. Ontem, o braço "farmacêutico" do BTG, a Brazil Pharma, fechou uma proposta para comprar a rede baiana Sant'ana.

Farmácia não é negócio pequeno. Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (IBGE) mais recente, remédios e produtos de higiene pessoal levam quase 6% das despesas de consumo dos brasileiros (quase o dobro do gasto em educação, mais que o dobro em eletrodomésticos, mais que em vestuário).

Em 2008, a Gávea investira na Droga Raia, desde o ano passado Raia Drogasil. A empresa disputa a liderança nacional (em faturamento) com a DPSP, resultado da fusão, também em 2011, da Drogaria São Paulo com a Pacheco.

Desde 2009, sete das 15 maiores empresas do ramo se aglutinaram. Em 2004, as cinco maiores redes tinham 16% das vendas. Em 2010, 23%. No ano passado, talvez 30%. "Talvez", pois as estatísticas do setor são um tanto confusas.

Segundo dados do IBGE, o varejo de remédios, perfumaria, produtos médicos e ortopédicos cresce em média 10% ao ano desde 2005. As farmácias crescem mais que isso, segundo associações do setor.

Renda crescente, povo mais idoso, formalização do negócio (com as notas eletrônicas), tudo isso estimulou o interesse pela consolidação.

O mercado começa a ficar concentrado? Não parece, mas a medida é difícil, depende de estudos muito complexos, com lupa em mercados regionais. Mas, para começar, os dados são confusos.

O Conselho Federal de Farmácia diz que existem cerca de 82 mil farmácias. As associações comerciais falam em cerca de 62 mil. Mas há estudos desse setor de varejo que falam em 52 mil pontos de venda.

Segundo a Abrafarma, associação das redes de farmácia, suas associadas, com mais de 3.600 lojas, faturam 41% do setor. A DPSP e a Raia Drogasil teriam, cada uma, cerca de 9% do faturamento do setor estimado pela Abrafarma (R$ 42 bilhões). Mas cada rede tem em torno de 700 lojas cada uma.

Num mercado ainda amador e pulverizado como o de farmácias, a consolidação tende a ser um progresso. Ganhos de escala e gestão moderna podem tornar o negócio mais eficiente e até melhorar os preços para o consumidor.

Por outro lado, as empresas menores serão devastadas e, provavelmente, expulsas para rincões de baixa renda.

Na média, os preços de produtos farmacêuticos têm subido menos que a inflação geral (IPCA). Em 2011, a inflação dos farmacêuticos foi de 4,4%, ante 6,5% do IPCA. Desde 2005, os farmacêuticos subiram o equivalente a 61% do IPCA.

A média pode distorcer altas feias de preços em remédios importantes (PODE: não quer dizer que distorça). Além do mais, as farmácias modernizadas deixaram de ser drogarias. Podem vender mais produtos, oferecer mais serviços.

Mas o negócio de farmácias ficou vitaminado. Precisa de um "check up" da supervisão da concorrência. Por ora, só um exame de rotina.



Veículo: Folha de S.Paulo

Colunista: Vinicius Torres Freire

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