Queda de rentabilidade preocupa fabricantes em 2014
A elevação de custos observada em vários setores da indústria nacional já começa também a bater na porta do segmento farmacêutico. Muito suscetível à valorização do dólar, uma vez que seus princípios ativos e embalagens têm cotações balizadas pela moeda norte-americana, os fabricantes temem a queda de rentabilidade neste ano. Especialmente porque os repasses destes custos nem sempre são rápidos, uma vez que o setor tem preços controlados pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), o que impede o livre reajuste pela indústria.
Para amenizar esse cenário, as companhias apostam na redução dos gastos e em planos estratégicos, mantendo inclusive os projetos para automação da produção, segundo fontes ouvidas pelo DCI. "Nos últimos cinco anos, este setor registrou um crescimento bem forte, muitas vezes, acima do PIB [Produto Interno Bruto] do País. A expansão deve continuar, mas o aumento nos preços dos principais insumos já começa a preocupar e a gerar um impacto na renda", explica o presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini.
Segundo dados da IMS Health, no acumulado entre os meses de dezembro de 2012 e novembro de 2013, a receita do setor cresceu 15,7% em comparação com o mesmo período do ano anterior, somando R$ 57,2 bilhões. Na mesma ocasião, foram vendidos cerca de 2,86 bilhões de medicamentos, alta de 10,7%.
No entanto, os bons resultados foram acompanhados também pela alta nos preços de insumos importados, embalagens, tarifa de energia e logística. "A questão cambial contribuiu para que o ano de 2013 não fosse tão bom como os anteriores. No entanto, na comparação com outros setores da indústria, o nosso desempenho foi positivo", diz o CEO da Aspen Pharma, Alexandre França.
De acordo com ele, a empresa (que comercializa produtos como o Insunorm, insulina humana), perdeu US$ 2 milhões no ano passado em decorrência da alta dos insumos. "Para 2014 projetamos crescimento um pouco menor já contabilizando a desvalorização do real. Por isso, este ano será de otimização de despesas", afirma o executivo. Em 2013, a companhia faturou R$ 170 milhões, alta de 42% nas vendas. Neste ano, a receita deve atingir a casa dos R$ 175 milhões.
A expansão menor em 2014 também está atrelada ao fato da capacidade produtiva da marca estar no limite. Para crescer, serão necessários novos aportes. "Nos últimos três anos, crescemos na casa dos 30%. Agora, precisamos ampliar o espaço fabril para dar conta da demanda", explica.
Segundo França, a empresa já traçou os próximos passos. "Nós vamos dobrar a capacidade de produção nos próximos três anos. Atualmente, a fábrica tem capacidade para gerar 18 milhões de comprimidos por ano. A meta é atingir 36 milhões", reforça França.
Hoje a fábrica de Serra (ES) funciona em dois turnos e nos sete dias da semana, de acordo com o executivo. Entretanto, apenas 20% do volume anual é feito lá. Cerca de 60% vem de empresas terceirizadas, enquanto os 20% restantes são importados.
"Nos próximos cinco anos, investiremos R$ 70 milhões para ampliar nosso estoque e a área de produção. Além disso, também compraremos novos equipamentos", explica França.
O quadro de funcionários deve aumentar também, passando dos atuais 400 para 480 até o final de 2015. "As obras de ampliação da área de estoque estão programadas para começar entre agosto e setembro deste ano. Enquanto as mudanças na área de produção acontecerão só em 2015", diz.
Outra empresa que também sentiu o impacto do aumento nos preços em 2013 foi a nacional Orange Health. Os altos custos nos valores de embalagens levaram a companhia a estudar a viabilidade de produção própria deste item. "Estamos em fase de estudo ainda, mas é quase certo que iremos investir na produção de embalagens", diz o diretor da Orange Health, Humberto Lopes.
O projeto da fabricante de suplementos e polivitamínicos contaria com um investimento inicial de R$ 1 milhão. "Em 2013, o custo das embalagens cresceu muito. Para baratear esse processo, ao invés de utilizarmos máquinas semiautomáticas como nossos fornecedores fazem, estamos pensando em usar aparelhos automáticos", diz Lopes. Segundo ele, a mudança contribuiria para uma redução de 20% nos custos atuais com mão de obra.
Em 2012, a marca faturou cerca de R$ 12 milhões. No ano passado, esse número dobrou para R$ 24 milhões e, para 2014, a projeção é de R$ 30 milhões. "Precisamos ganhar mais eficiência de produção, até porque a questão do câmbio continuará preocupando", acrescenta o executivo.
De acordo com Mussolini, o problema de custos pode, em alguns casos, prejudicar investimentos futuros no setor. "Com a alta dos custos superior aos reajustes de preços, a indústria pode reduzir os aportes", diz Mussolini, acrescentando que, neste ano, o patamar ideal do dólar para o setor farmacêutico giraria em torno de R$ 1,90 e R$ 2.
Jornalista: Bruna Kfouri
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